21 agosto 2017

LACERATED AND CARBONIZED: guitarrista fala sobre álbum 'Narcohell', clipe novo e violência no RJ

Por Julio Feriato / Fotos: divulgação

Da esq. p/ dir.: Jonathan Cruz (V), Caio Mendonça (G), Paulo Doc (B) e Victor Mendonça (Bt)
A banda carioca Lacerated And Carbonized surgiu em 2005 e lançou seu primeiro trabalho em 2011, "Homicidal Rapture". Mas foi com "The Core of Disruption", de 2013, que o grupo realmente caiu nas graças da imprensa e do público headbanger, tanto aqui quanto no exterior. 

E, após turnês pela America do Sul, Europa e vários shows em território nacional, o Lacerated And Carbonized soltou em novembro de 2016 o excelente "Narcohell, produzido por Felipe Eregion (vocalista do Unearthly) e mais uma vez mixado e masterizado pelo produtor alemão Andy Classen (Destruction, Krisiun, Nervosa, Violator) no Stage One Studios, Alemanha.

"Narcohell" é praticamente um soco na cara e exibe composições fortes, diretas, agressivas mas sem deixar o groove de lado. Ou seja, puro Death Metal sem muitas firulas, e que ainda conta com as ilustres participações de Mike Hrubovcak (Monstrosity) e Marcus D'Angelo (Claustrofobia) em duas composições.

Semana passada a banda lançou em seu canal do Youtube o videoclipe para a música "Hell de Janeiro", única composição em português do disco. Aproveitei a deixa e entrei em contato com o guitarrista Caio Mendonça para bater um papo sobre o atual momento do grupo. O resultado você lê a seguir.

Primeiramente quero parabeniza-los pelo álbum "Narcohell"! Quando começaram a compor vocês já tinham em mente do resultado que queriam alcançar?
Quando eu começo a compor um novo disco, sinto que estou em uma área desconhecida, inexplorada. Por mais que você queira que o disco siga por um caminho, o que vai definir como as músicas vão sair é a inspiração do momento. Apesar disto, nosso objetivo era nos superar e fazer nosso melhor álbum. Acredito que conseguimos isto.

Agora que já passou quase 1 ano desde seu lançamento, como você analisa "Narcohell" em comparação aos seus antecessores?
Eu diria que "NarcoHell" é a evolução natural do disco anterior, "The Core of Disruption", por termos nos aprofundado ainda mais na temática com foco na violência do nosso estado, Rio de Janeiro. Sinto também que resgatamos uma abordagem mais rasgada e direta nos riffs, característica forte presente no álbum "Homicidal Rapture".

"Narcohell" é um titulo forte para um álbum. Como surgiu a idéia?
A ideia surgiu após a composição da faixa título. Eu trouxe esse instrumental rápido e agressivo para o ensaio e o Paulo na mesma hora começou a bolar uma letra sobre o narcotráfico, um tema forte para um instrumental forte. Ali mesmo surgiu a primeira frase do refrão, "Living Narcohell...". Ou seja, "Narcohell" começou como letra, virou título de música e, posteriormente, título do álbum.

Vocês têm noticia de como tem sido a aceitação do disco no exterior?
O disco foi lançado no Brasil e EUA no ano passado, e agora, após um ano, o álbum será lançado no México pela Concreto Records. Isto só mostra a força do disco e o interesse em torno dele. Tivemos um feedback muito bom durante parte da nossa última turnê sul-americana e estamos ansiosos para mostrar as novas músicas em nosso próximo giro na Europa.

Uma das coisas que aprecio no Lacerated and Carbonized é o fato de sempre fazer músicas diretas e curtas. Isso é algo proposital?
Nós não impomos limites ou regras na hora de compor, mas acredito que o LAC possua uma característica bem definida, que é a junção de riffs diretos e pesados com uma bateria mais rápida e trabalhada. O mais importante é que as músicas estejam do nosso agrado e, ao acrescentar novos elementos nas composições, você deve sempre se perguntar se você está fazendo o melhor pela sua música.


A banda lançou recentemente um videoclipe para "Hell de Janeiro", única música em português do disco. Por que escolher esta música para gravar um clipe?
Escolhemos esta música por causa da mensagem. Independente do idioma, esta é a letra mais direta já feita pelo LAC e sintetiza muito bem a temática do álbum como um todo. Além disso, a faixa mostra uma faceta diferente do LAC, explorando riffs mais pesados em uma estrutura mais cadenciada.

Dá pra ver que o vídeo foi gravado em uma favela. Como foram as filmagens?
As favelas são um símbolo do descaso do poder público. Na maioria dos casos, falta uma infra-estrutura básica para que os moradores possam viver com um mínimo de dignidade. Esse cenário de abandono foi perfeito para ilustrar a mensagem que a gente queria transmitir com essa música. Conversamos com a produtora CS Music Vídeos que abraçou a ideia e nos apoiou, realizando parte das filmagens no morro Dona Marta e a outra parte em Vargem Grande, Zona Oeste do Rio.

A letra de "Hell de Janeiro" possui uma forte crítica ao governo e à criminalidade do Rio de Janeiro, mas acredito que isso possa ser estendido praticamente ao país todo, não é?
Sem dúvidas. O Rio de Janeiro passa por um estado de calamidade, mas o restante do Brasil não está muito atrás. Acredito que as pessoas estão gostando do vídeo por se identificarem com ele. Elas vêem o clipe e sabem que aquela é a realidade nua e crua, infelizmente. Curto muito esta letra, pois você consegue encaixá-la em diferentes situações. O trecho "Cidade de ladrão", por exemplo, pode ser direcionado para a criminalidade cotidiana que a gente vê nas ruas do Rio, mas também pode ser usado para o alto escalão da política, vide nosso ex-governador, Sérgio Cabral, preso por roubar/ receber milhões em propinas.

Qual sua opinião quando dizem que usuários de drogas são os maiores financiadores da criminalidade?
O vício em drogas deve ser tratado como doença. Independente do motivo que levou o cara a entrar no mundo das drogas, sair é muito difícil, e até que isso aconteça, muitos usuários perdem seus bens, sua família, amigos... O verdadeiro criminoso costuma ficar impune. É ultrajante saber que uma das maiores apreensões de cocaína já feita na história do Brasil foi no helicóptero de um político e todos os envolvidos estão soltos. (Nota: Confira aqui maiores detalhes sobre este caso)

Eu sempre vejo pessoas reclamando da falta de segurança no país e pedem por mais policiais nas ruas. Particularmente acho que enquanto existir tanta desigualdade social, cidadãos na miséria passando fome e sem poder de compra, a violência urbana não irá diminuir. Qual sua visão á respeito disso?
Você está certo. Para diminuir os índices de criminalidade, você deve ter um entendimento do que leva as pessoas a cometerem esses crimes. Sem ir na causa do problema, por mais que você prenda um bandido, um outro vai surgir no lugar. Do jeito que está, precisamos sim do patrulhamento, mas somente uma abordagem combativa já se mostrou ineficaz. Precisamos de políticas de inclusão social, oportunidades iguais de estudo e trabalho para todas as classes, melhoria nos serviços públicos de saúde e educação, dentre outros fatores. O problema é que nossos políticos só pensam em curto prazo, nas próximas eleições. Falta interesse em investir nesses projetos que só vão gerar frutos 15, 20 anos depois.

Caio, obrigado pela entrevista! Quais os próximos passos da banda agora que o clipe foi lançado?
Muito obrigado por todo o apoio, Julio e Heavy Nation! Estamos embarcando ainda nesse mês de agosto para mais uma extensa turnê européia. Depois disto, temos algumas datas no Brasil e espero encontrar todos os metalheads na estrada! Obrigado e espero que curtam "Hell de Janeiro"! \m/
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