12 setembro 2017

NE OBLIVISCARIS: a harmônica 'desconstrução' do extreme prog metal

Por Julio Feriato / Fotos: divulgação
Agradecimento especial a Dandara Morais


Da esq. p/ dir.: Benjamin Baret (G), Matt Klavins (G), Tim Charles (Violino/Vocal), Xenoyr (Vocal), Brendan “Cygnus” Brown (ex-Baixista), Daniel Presland (BT).
Classificar a música do NE OBLIVISCARIS não é uma tarefa muito fácil. Inicialmente, o gênero musical deste grupo australiano poderia ser descrito facilmente como black metal, devido as partes mais cruas e ríspidas. Mas, quando você pensa que é uma coisa, do nada a música transforma-se em algo totalmente inesperado, cheia de partes acústicas, clássicas, progressivas, vocais rasgados contracenando com vocais limpos; e tudo de uma maneira única, bela.

Portanto, se você nunca ouviu esta banda, desconstrua tudo o que você conhece sobre música extrema! E não estou exagerando nem um pouco: Ne Oblisviscaris é, na minha humilde opinião, umas das melhores coisas que surgiram nos últimos anos dentro da música extrema!

A banda está prestes a lançar seu novo álbum, intitulado “Urn”, o terceiro full-lenght de sua carreira, e, para saber mais sobre o novo disco e outras curiosidades, conversei com o vocalista (e fundador) Xenoyr, que mostrou-se um cara super carismático e conhecedor de nossa cena metálica (mesmo que ele tenha dito o contrário).



Como estão as expectativas para o lançamento do novo álbum, ‘Urn’?
São as melhores possíveis! Colocamos muita pressão sobre nós mesmos na hora de compor este disco e acho que trabalhamos muito melhor dessa maneira. Uma de nossas preocupações foi saber se as pessoas vão gostar ou não, isso sempre esteve no fundo das nossas mentes, embora estejamos confiantes de que ele será bem recebido. De qualquer modo, nós escrevemos para nós mesmos, e se todos gostamos – considerando que somos amplos no que gostamos, então há uma boa chance do álbum funcionar bem. Quão bem? Nós não sabemos.

Recentemente vocês lançaram um belo vídeo para o single “Intra Venus”. Foi difícil escolher uma música para ser o primeiro single?
Que bom que você gostou, fico feliz! Esta é a canção mais curta do álbum e talvez uma das mais acessíveis, então a escolha dela foi algo bem simples. Eu acho que “Intra Venus” mostra um bom alcance do que fazemos, de forma mais condensada.



Em 2014, a banda fez uma campanha bem sucedida de crowdfunding para poder realizar uma turnê mundial. Como surgiu essa ideia?
Como você sabe, estar em uma banda de metal não é muito lucrativo, então precisamos trabalhar uma maneira de arrecadar dinheiro para que pudéssemos tocar em outros países e uma campanha de crowdfunding provavelmente era a única maneira possível em um curto período de tempo. Não tínhamos certeza de como seria, pois nunca havíamos feito nada assim antes, mas o resultado foi muito além das nossas expectativas; sinal que as pessoas se preocupam com o que fazemos.

Eu sei que durante esta turnê vocês ficavam hospedados na casa de fãs e que até rolou um churrasco e um show acústico. E como foi ter um relacionamento tão próximo com os fãs?
O churrasco foi uma ótima experiência para a banda! Quanto ao show acústico, eu não participei porque teria sido um pouco estranho cantar gutural, acho. Mas o intuito foi mostrar aos nossos fãs o quanto os apreciamos e pensamos que este acústico poderia ser algo pessoal e diferente de um show de metal normal. O relacionamento que temos com os fãs é importante, e é assim que sempre foi desde os nossos primeiros dias. Eles são o porquê de estarmos onde estamos hoje e sem o seu apoio provavelmente estaríamos tocando nos mesmos pequenos clubes de quando nós começamos.


Estar mais perto dos fãs é algo muito legal, mas ao mesmo tempo não é cansativo ter que ser simpático o tempo todo?
As vezes. Uma coisa que a maioria das pessoas não entende é que nos entregamos todas as noites na turnê e é especialmente difícil para Tim e para mim. Podemos cantar durante 90 minutos e depois conversar com os fãs por horas, mas é desgastante, e, a menos que você seja um cantor, você não percebe o quanto é necessário. Agradecemos aos nossos fãs mais do que eles percebem, mas é difícil encontrar um equilíbrio sem ser rude e preservar nossas vozes. Além disso, eu também não sou a pessoa mais sociável ou extrovertida, e estar em público é bastante difícil para mim, independentemente das circunstâncias.

Suas letras são cheias de metáforas e referências visuais. De onde vem sua inspiração?
Eu escrevo como se descrevesse pinturas em movimento, pelo menos é assim que eu vejo; não tenho certeza de como os outros percebem. Minha inspiração vem de muitos lugares, principalmente arte antiga do período Renascentista até o Romantismo, e refiro-me a certas pinturas para obter um certo pensamento. Além disso, também me inspiro na literatura; livros antigos e obscuros sobre história e mitologia. Tudo o que escrevo tem um propósito e um lugar, meus pensamentos são desajeitados, então eu gosto que as pessoas interpretem à sua maneira.



A maioria das músicas do Ne Obliviscaris vão além de dez minutos. Isso é proposital?
Não é proposital. Geralmente não planejamos que uma música seja longa, apenas que ela seja boa. Se você escrever pensando no tempo de duração ou uma razão superficial, geralmente será terrível ou desonesto com o que você representa.

Geralmente quem dá a palavra final sobre as composições?
Todos participam. Quando você está em uma banda, você precisa entender o conceito de compromisso, caso contrário, a banda não vai durar. Nós abordamos as preocupações de todos ao longo do processo e, portanto, no final do processo de escrita, não temos desentendimentos surpresa. Conheço bandas que acabaram por não ter consciência dessas coisas.

Você tem outro projeto chamado Antiqva. O que você pode nos contar sobre isso?
Em suma, é Symphonic Black Metal. Atualmente estamos escrevendo material para o nosso álbum de estréia, mas não para 2017, já que é um grande empreendimento e todos os integrantes são de bandas já estabelecidas e profissionais. O som que estamos desenvolvendo é bastante especial e não soa parecido como nenhum de nossos projetos atuais, é algo bastante fresco… Mas tem uma sensibilidade mais antiga. [Obs: além de Xenoir, o Antiqva também conta com músicos do Cradle of Filth, Susperia, Negator e Black Crow Initiate.]

A Austrália revelou grandes bandas nos últimos anos. O que você pode nos dizer sobre a cena australiana?
Eu diria que está prosperando. Mas ainda há muitas bandas, novas e antigas, que ainda não se destacaram internacionalmente. A principal razão é que nosso país é muito distante e, portanto, mesmo que essas bandas tenham tido oportunidade de fazer turnês, a despesa é muito alta e por conta disso muitas delas simplesmente não serão ouvidas ou vistas. As bandas australianas são difíceis e penso que sua ética de trabalho realmente se depara quando eles eventualmente chegam às costas estrangeiras.

O que você conhece sobre a cena brasileira?
Para ser honesto, meu conhecimento é muito limitado. As bandas que vem na minha cabeça são Sepultura, Krisiun, Sarcófago, Angra, Tuatha de Danann, Spell Forest, Mythological Cold Towers, Thy Light e Patria. Não conheço muito, mas parece ser uma cena enorme, pelo menos é o que vejo pela Internet. A gente sempre se pergunta se um dia iremos tocar por aí.

Aqui está o link de cinco bandas brasileiras. Gostaria que você ouça com atenção e comente suas impressões sobre cada uma delas, ok? Seja honesto!
Ok, serei!

Mythological Cold Towers – “Remoti Meridiani Hymni”

Já ouvi falar deles, mas nunca tinha tido a chance de escutar. É muito heroico e bruto, me lembra um pouco Bal-Sagoth, talvez menos polido. Vou procurar ouvir outras músicas para ter uma ideia melhor.

Tuatha de Danann – “Abracadabra” (Live Acoustic)

Eu já os conhecia e ouvi há muitos anos atrás. Uma banda muito interessante, enérgica e criativa, um pouco edificante para mim. Qualquer um que escute folk metal, apreciaria muitos elementos em sua música.

Thy Light – “The Bridge”

Eu já conheço e gosto desta banda! O som é muito atmosférico, deprimente… Adoro!

Arandu Arakuaa – “Ĩpredu”

Estou muito confuso sobre esta… Não tenho certeza do que dizer! Mas para mim parece que há muitos elementos; metal, folk, pop, tribal. É certamente muito criativo.

Miasthenia – “Entronizados na Morte”

Isso é muito bom! Black Metal sinfônico de meados dos anos 90… Me lembrou uma mistura entre Dimmu Borgir e Catamenia, mas com menos foco nos teclados. Provavelmente vou verificar outras músicas!

Há alguma chance de vir para o Brasil na próxima turnê?
Tocar no Brasil é definitivamente algo que desejamos há muito tempo! Não sei ao certo como é nossa base de fãs por aí, mas, como mencionei anteriormente, parece que temos um público crescente, então veremos… Se tiver algum promotor que queira nos levar, peço que entre em contato conosco! [Alô Overload Music! Já passou da hora de trazer os caras no Overload Music Fest, hein?]

Xen, muito obrigado pela entrevista! Peço que deixe uma mensagem aos fãs brasileiros.
Muito obrigado por esta entrevista tão agradável! Para os nossos fãs brasileiros, obrigado a todos pelo apoio entusiasmado que vocês mostraram até agora… Por favor, cobrem seus promotores locais para que possamos tocar por aí em breve!


____________________________________________________

03 setembro 2017

EDU FALASCHI fala sobre a 'Rebirth of Shadows Tour'

Por Julio Feriato

Da esq. p/ dir.: Fabio Laguna (teclado), Diogo Mafra (guitarra), Edu Falaschi (vocal), Raphael Dafras (baixo), Roberto Barros (guitarra) e Aquiles Priester (bateria)

Recentemente Edu Falaschi (Almah) reuniu-se com seus ex-companheiros da época do Angra, o baterista Aquiles Priester (Hangar, Tony Macalpine, Noturnall) e o tecladista Fabio Laguna (Hangar) para encabeçar a “Rebirth of Shadows Tour”, que rodou algumas cidades no Brasil.

Pouco antes desta turnê começar, conversei com Falaschi para saber mais alguns detalhes não somente a turnê, mas também sobre o Almah e sobre sua reaproximação com Aquiles Priester (ambos trocaram algumas farpas após se desligarem do Angra).

Apesar de vários discos gravados com o Almah é nítido o quanto o Angra ainda é importante pra você. Quais são as lembranças mais marcantes que você tem daquela época?
Aquela época ainda é muito importante para os meus fãs, pra mim certamente, claro, mas pra galera aquilo que fizemos no inicio dos anos 2000 está eternizado e é muito simbólico. Tenho muitas lembranças bacanas! Os shows no Japão, no Brasil, etc.

Como surgiu a ideia da “Rebirth of Shadows Tour”?
Surgiu depois de um show que fiz no Peru onde toquei o “Rebirth” na íntegra. Comecei a receber pedidos de shows para cantar Angra e achei que seria uma boa ideia fazer algo mais especial.

O setlist revisita clássicos de quando você era vocalista do Angra. Há chances de também incluir músicas mais ‘lado B’ como “Eyes of Christ”, por exemplo?
Sim, montamos um setlist bem variado e cheio de clássicos, mas também queremos colocar músicas que tocamos pouco ou nem tocamos nas tours com o Angra. A galera pode esperar um setlist bem animal na segunda parte da tour.

Edu, após seu desligamento do Angra você não escondeu suas críticas negativas sobre o Aquiles, mas agora vocês estão juntos nesta tour. Como está sendo voltar a trabalhar ao lado dele?
O passado ficou no passado, hoje estamos focados na música e no presente. Vivemos muitas coisas juntos, boas e ruins, mas, pra mim, nada impede que as pessoas se reaproximem; pelo menos eu sou assim, me permito não viver com remorso e seguir em frente. Às vezes é possível e às vezes não, mas eu pelo menos tento.

E como está atualmente o Almah? Há menos de 1 ano Vocês lançaram o “E.V.O.” e ele foi muito bem aceito tanto pela crítica quanto pelos fãs. Não seria cedo dar essa “pausa” na divulgação do disco?
Na verdade não foi uma pausa programada, em breve faremos mais alguns shows, enfim… Faremos o que for viável!

Uma vez no programa Heavy Nation foi lhe perguntado se algum dia você gravaria algo mais voltado à sua personalidade, ou seja, ao Edu fã de Iron Maiden, Dio, Judas Priest, Queensrÿche, sem preocupações com tendências de mercado. Na época você respondeu que o Almah era um conjunto de influências de todos os membros e por isso algo assim não rolaria. Atualmente não há planos de um álbum solo nessa linha?
No momento não!

Você tem fama de sempre tratar bem os seus fãs, mas como ser-humano deve ter momentos em que você não está muito no ‘clima’. Já rolou alguma situação chata desse tipo? Como manter a simpatia nessas horas?
Eu, na real, procuro tratar qualquer pessoa bem, isso é o mínimo do mínimo, todos merecem respeito, porque eu exijo respeito também, se algum dia deixei alguém triste, certamente não foi intencional.

Há chances da “Rebirth of Shadows Tour” se extender para mais datas em outros cantos do país?
Sim, voltaremos em Dezembro de 2017 e Janeiro de 2018 no Brasil e shows internacionais estão sendo negociados para 2018.