12 setembro 2015

MYTHOLOGICAL COLD TOWERS: "doom metal é um gênero maldito", afirma guitarrista

Por Julio Feriato / Fotos: divulgação

Nechron (G), Yaotzin (B), Hamon (BT), Samej (V) e Shammash (G)
Talvez você nunca tenha ouvido falar sobre o Mythological Cold Towers. Mas saiba que já se passaram quase vinte anos desde que esses paulistas lançaram o primeiro cd “Sphere of Nebaddon: The Dawn of a Dying Tyffereth”, considerado um verdadeiro clássico do doom metal brasileiro e hoje disputado a tapas pelos fãs do estilo.

De lá para cá, mesmo após longos intervalos, o grupo também lançou “Remoti Meridiani Hymni: Towards the Magnificent Realm of the Sun” (2000), “The Vanished Pantheon” (2005), “Immemorial” (2011) e “Monvmenta Antiqva”, o mais novo trabalho, lançado em abril deste ano.

Conversei com o guitarrista Shammash para falar sobre a atual fase da banda; o resultado você confere logo abaixo.

Samej e Shammash no Heavy Nation, em 2011
Quando conversamos no programa Heavy Nation em 2011 você afirmou que o Doom Metal é um gênero musical maldito. Você ainda acha isso?
Acho sim, pois não só no Brasil como em outros países, o Doom ainda não possui o mesmo espaço como outros estilos têm. Mas não vejo isso como algo de negativo. O Doom é um gênero muito difundido e apreciado por ouvintes com gosto musical mais apurado e abrangente. Então, de certa forma, há uma conexão e proximidade entre os fãs do estilo.

O novo álbum “Monvmenta Antiqva” resgatou o doom clássico que a banda fazia no inicio de sua carreira. Isso foi proposital?
De alguma forma, sim. Além de sermos fãs desse Doom clássico praticado no inicio dos anos noventa, nós acompanhamos o surgimento do estilo e o nascimento das bandas que se tornaram ícones como, por exemplo, My Dying Bride, Anathema, Paradise Lost, Cathedral, Katatonia, entre outras, pois sempre fomos fortemente conectados com a cena underground mundial, desde os anos oitenta. Desta forma, nós temos o imenso orgulho do MCT ter emergido nesse período.

Outro detalhe marcante foi a volta dos teclados, instrumento que vocês haviam meio que deixado de lado no cd anterior.
Na verdade, nós utilizamos o teclado para dar uma ambiência envolta de mistério e climas épicos em nossa música. Chegamos a explorar mais esse instrumento na época dos albuns “Remoti Meridini Hymni” (2000) e “The Vanished Pantheon” (2005). A partir de “Immemorial” (2011), nós preferimos utilizar de forma mais sutil, apenas para harmonizar a atmosfera de opulência que a banda transmite.

Formação do álbum “Remoti Meridiani Hymni…”
Vocês impressionaram muita gente quando lançaram o “Remoti Meridiani Hymni…”, pois ele veio com uma proposta totalmente diferente, mais atmosférica e com músicas longas que passam dos dez minutos. O que inspirava a banda naquela época?
Naquele período a banda tinha outros integrantes que não estão mais hoje. Havia muita diversidade de gostos e influências musicais entre os membros. Lembro que buscávamos inspirações de vários tipos de músicas que combinavam com a atmosfera do MCT, como por exemplo, trilhas sonoras de filmes épicos. Ainda carregamos essas influências, porém, estamos mais focados em fortalecer a nossa identidade.

Foi também quando começaram a explorar o tema sobre as antigas civilizações da America Central, correto?
Isso é outro orgulho que temos: ser uma das primeiras bandas de Metal a incorporar essa temática na música. Então, naturalmente, foi lançada uma trilogia sobre a América pré-colombiana, iniciada no álbum “Remoti Meridini Hymni”, dando continuidade em “The Vanished Pantheon” e finalizando no “Immemorial”. O vocalista e letrista Samej soube através de uma profunda pesquisa e leitura, absorver esse tema e incorporá-lo à nossa música.

Em “Immemorial” as letras abordaram as civilizações perdidas da Amazônia. Um tema bem complexo e que exige muita pesquisa…
Exatamente. Há muitos mistérios e lendas que se formaram naquela região. Samej pesquisou muitos textos de cronistas antigos que estiveram lá e descreveram belas obras cheias de histórias assustadoras e míticas. Sem contar nos emblemáticos rastros deixados por antigas civilizações brasileiras não só na Amazônia, como em várias partes do nosso país.

E qual a concepção lírica de “Monvmenta Antiqva”?
Mudamos da água pro vinho, ou melhor, deixamos o tema sobre a América um pouco de lado e resolvemos falar sobre as civilizações clássicas. Não se trata de um álbum totalmente conceitual como os anteriores. Na verdade, “Monvmenta Antvqua” foi inspirado em nossa admiração pela arte e cultura greco-romana. O álbum reflete nosso fascínio e contemplação pela arte e cultura no mundo clássico, bem como os vestígios de suas construções, templos e todo o legado que deram origem a civilização ocidental.

Ao ouvir “Monvmenta Antiqva” tenho impressão de que ele talvez seja o álbum mais ‘emocional’ da banda. Como vc analisaria este trabalho?
De fato você, conseguiu absorver a verdadeira essência que o álbum transmite. Desta vez, fizemos o possível pra deixar a sonoridade repleta de magnificência e uma produção bem polida, a fim de evocar o sentimento de beleza e deslumbres que a própria arte clássica nos remete.

Vocês deram um rolê pela Europa em 2012. O que deu pra sentir da cena doom de lá?
Apesar de realizamos apenas cinco shows, abrangendo os países Portugal, Irlanda e Holanda, deu pra ter uma ideia de como as coisas funcionam por lá. O público no geral é como o daqui. Vão aos shows, apoiam e mostram grande receptividade às bandas. O diferencial é que na Europa há uma cultura voltada pro Metal em geral. Você percebe isso quando nota o profissionalismo em termos de estrutura e organização de eventos e o estímulo do público em apoiar as bandas, comprando seus materiais.

Quais os planos da banda agora que o novo cd foi lançado?
A ideia é preparar um merchandising e prosseguir com as apresentações pra divulgar o novo trabalho, abrangendo vários lugares possíveis. Temos várias propostas, mas, até o momento, estão confirmados shows no Rio Grande do Sul e Cuiabá. Estamos aptos a tocar em vários estados e regiões do Brasil. Nesse meio tempo, quem sabe não relançamos algum material antigo. 


Discografia:
* “Sphere of Nebaddon: The Dawn of a Dying Tyffereth” (1996)
* “Remoti Meridiani Hymni: Towards the Magnificent Realm of the Sun” (2000)
* “The Vanished Pantheon” (2005)
* “Immemorial” (2011)
* “Monvmenta Antiqva” (2015)

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